No começo do mês passado, passei alguns dias na casa de meus tios em Raphèle-les-Arles, na Provence, onde valorizar produtos locais não é modismo, mas algo naturalmente incorporado às rotinas das pessoas. Essa filosofia posta em prática cotidianamente projeta-se nos espaços públicos através dos muitos mercados de rua, que acontecem em diversas edições semanais.
Em minha visita anterior ao sul da França, estive no marché de Arles e jamais me esqueci do perfume de azeitonas que tomava conta do lugar. Desta vez, fui conhecer o de Saint-Rémy, que é um dos mais famosos da região. Buquês de lavanda, mudas de oliveiras, azeitonas de diversos tamanhos e cores, azeites do vale de Baux-de-Provence, embutidos, queijos de cabra de produção local, como o Banon e o Picodon. Por toda parte, havia placas com a identificação da procedência dos produtos – e ninguém acha que vai salvar o mundo fazendo isso; fazem porque sempre fizeram, porque é natural que seja assim quando se valoriza o que há por trás da comida.
Meus tios, que vivem na Provence há quatro décadas, não frequentam restaurantes estrelados no guia Michelin, nem estão a par das novidades recentes no ranking da revista inglesa Restaurant, mas os caminhos das feiras sabem na ponta da língua. E, embora nem desconfiem disso, suas práticas à mesa não podiam estar mais de acordo com o que anda em voga mundo afora. O azeite consumido em sua casa é comprado em um vizinho, que é produtor. Os ovos vêm das galinhas do quintal de outra vizinha. Alecrim há aos montes nos jardins dos arredores. Cogumelos o tio colhe pessoalmente. Mostrou-me o manual em que estuda as espécies pra não correr o risco de trazer pra casa algum que não seja comestível. E me levou a conhecer as estradas onde põe em prática o que aprende nos livros.
Pensei em contar a eles como estão afinados com o que há de mais atual nas listas de tendências gastronômicas divulgadas nos últimos anos. Certamente achariam graça.