É claro que não experimentei todos. Mas, ao menos pra mim, está decidido: é no Breslin que se serve o melhor e menos óbvio brunch de Nova Iorque. E é a ele que voltarei sempre que tiver uma oportunidade. Até porque, por trás da casa, está uma das chefs mais admiráveis daquela cidade.
A inglesa April Bloomfield, que há alguns anos causou frisson com seu Spotted Pig, tornou-se, do alto de seus trinta e poucos anos, a rainha dos gastropubs em Nova Iorque. Ao inaugurar a segunda casa em 2009, no lobby do Ace Hotel, a moça rapidamente ampliou sua coleção de estrelas Michelin, deixando muito claro a que veio. Conhecida por seu perfeccionismo, é detalhista ao extremo, quase uma obsessiva. Dona de uma disciplina militar. Tudo isso se reflete na perfeição de cada detalhe do que é servido no Breslin. Sua cozinha não comporta invencionices. Faz comida de verdade, com soberba execução e apuro no sabor.
As figuras de porcos e outros bichos espalhadas pelo escuro salão e a soberania da carne no cardápio remetem à inspiração na filosofia de Fergus Henderson (rei do conceito “nose to tail eating”) e sugerem um tanto da alma do trabalho de Bloomfield. Estive lá numa manhã de domingo, longe do horário em que entram em cena terrines e pés de porco. Mas se engana quem esperar do brunch do Breslin omeletes entediantes ou os waffles de sempre. Ali se faz comida pra gente grande, seja qual for o horário.
Ao nos acomodarmos, eu e minha companheira de mesa nos vimos diante do desejo de abraçar todas as possibilidades do enxuto cardápio. Logo se imporia a inevitável aflição da escolha. Diante do nosso dilema, a garçonete não resistiu e declarou: “We love women who eat”. A frase, de certa forma, selava o espírito do Breslin.
Começamos com iogurte grego, leve como uma nuvem mas muito cremoso. E acompanhado de ótimo mel, frutas maceradas e praliné de pistache.
Seguimos com as panquecas de ricota. Não eram quaisquer panquecas. A massa feita com polenta recebia um banho de deliciosa marmelada de laranja e, ainda, lâminas de amêndoas tostadas e creme de ricota.
A coisa ficou mais séria com o “Grilled 3 cheese sandwich”, um senhor sanduíche de Idiazabal, queijo raclette e Montrachet, lindamente gratinado com parmigiano. Com mostarda e os ótimos picles.
Poderíamos ter parado ali, mas não somos de deixar por menos. Afinal, April Bloomfield já foi chamada de “burger queen” e eu não sairia dali sem conferir a fama. A prova veio com um hambúrguer de cordeiro que era um assombro. Carne rosada e suculenta, temperado com cominho, coberto apenas por uma comedida fatia de queijo feta e poucas rodelas de cebola, e abraçado por duas fatias crocantes de um pão rústico perfeito. Um dos melhores hambúrgueres que já comi. O mesmo posso dizer das impecáveis batatas-fritas que o acompanhavam. De perder o juízo.
Encerramos com doughnuts. Os de April, delicadíssimos, são algo como bolinhos de chuva que passaram por um banho de leveza. Acompanhados de molho de chocolate, maple syrup e caramelo salgado.
Uma das refeições mais prazerosas de que tenho lembrança ultimamente. Isso não é pouco.
The Breslin – 16 west 29th street (entre Broadway e Fifth Avenue) – no lobby do Ace Hotel
http://thebreslin.com/
As atualizações do blog também estão no meu twitter.