Oro: quase três anos depois

Maio 2013

Quando O Oro estava em vias de inaugurar, em 2010, soube até de apostas sobre quanto tempo o restaurante resistiria antes de agonizar. Quem dava mais não ousava apostar mais de um ano. Pois a casa está prestes a completar três. De lá pra cá, Felipe Bronze vem mostrando que seu trabalho tem lastro.

Seu começo de carreira é cheio de tropeços? Impossível negar. Algumas de suas escolhas revelam certa falta de maturidade? Talvez. Não gostam de seu programa de TV? Também não gosto. Mas nada disso me importa quando me sento em seu restaurante. Ali, quero comer bem. Isso, Felipe sempre me garantiu. Gostem ou não de sua cozinha, o fato é que não se trata de algo a que se possa ficar indiferente. Particularmente, tenho a impressão de que o respeito de seus colegas o chef ainda não conquistou. Talvez nem venha a conquistar. Preconceito é coisa difícil de quebrar. Dizer que gosta do Oro é arriscado. Muita gente olha torto ao ouvir isso. Pois eu gosto. Já disse isso aqui algumas vezes. Por via das dúvidas, repito. Tenho minhas ressalvas, como já expus longamente nesse post e nesse outro. Mas nunca saí dali insatisfeita ou, o que seria pior, indiferente.

Penso nas minhas três últimas refeições no restaurante ao longo dos últimos doze meses, e, apesar de não gostar igualmente de todos os pratos que me foram servidos, encontro muitos motivos a reiterar minha convicção a respeito da casa.

É o caso da deliciosa versão do Caju Amigo, com que sempre tenho iniciado meus jantares ali. Caju confit, sorbet da calda do confit com cachaça e caju passa.

Oro Felipe Bronze

Ou da inspirada trilogia Carioquices, que homenageia alguns clássicos da boemia carioca: o bolinho de aipim com camarão da Alaíde – que fez fama no Bracarense e continua arrebanhando adeptos no Chico & Alaíde – , o bolinho de feijoada do Aconchego Carioca  e o sanduíche do Cervantes, que aqui, verdade seja dita, surge em versão muito mais gostosa que o original. O refrigerante de gengibre fazendo as vezes de chopp é a cereja do bolo.

Oro Felipe Bronze

Oro Felipe Bronze  Oro Felipe Bronze

Da delicadeza do Milharal, cones de milho com recheio de espuma de catupiry e pó de pipoca.

Oro Felipe Bronze  Oro Felipe Bronze

Do sutil diálogo de sabores do duo de gnocchi, um de cebola, outro de queijo Canastra, ambos mergulhados num consommé de alho tostado.

Oro Felipe Bronze

Do lúdico e delicioso Um Dia na Praia, que sintetiza o modo de comer nas areias cariocas: mate com limão, milho na manteiga, queijo coalho esferificado e defumado com orégano, areia de amendoim, espetinho de camarão e biscoitos de polvilho.

Oro Felipe Bronze

Oro Felipe Bronze  Oro Felipe Bronze

Oro Felipe Bronze

Das variações em torno do porco, onde brilham a pururuca (obtida da pele de porco em pó, desidratada), a costela úmida e macia e o infernal sanduíche de orelha de porco com Canastra e ketchup de goiaba.

Oro Felipe Bronze

Oro Felipe Bronze

Oro Felipe Bronze

Das sempre lúdicas, e quase sempre gostosas, sobremesas e mignardises. O capítulo derradeiro dos cardápios costuma ser terreno fértil para muitos chefs exercitarem preguiça e negligência. Não ali. A provar o que digo, exemplos como a Tudo Ovo, de que já falei aqui anteriormente. A média com pão na chapa, que traz um shake de café acompanhado de um naco de pão com creme de confeiteiro, submetido ao calor do maçarico antes de vir à mesa. Os churros em miniatura. Os deliciosos bolinhos de pupunha que acompanharam meu café ao final do jantar de ontem e ainda não me saíram da memória.

Oro Felipe Bronze

Oro Felipe Bronze

Oro Felipe Bronze

Só posso desejar que a chama que move Felipe continue acesa na nova casa que o chef  inaugura ainda esse mês na rua Dias Ferreira, no Leblon. Batizada de “Pipo”, aparentemente terá a mesma linha de criação do Oro, porém numa versão mais informal, menos ambiciosa. No cardápio, finger food, pratos a compartilhar e sanduíches pinçados do cardápio do Oro como o “Oro Burger” e a homenagem ao Cervantes. Nas sobremesas, evocações da memória de Felipe, como sua versão do creme de abacate das nossas infâncias, arroz doce e sundaes revisitados.

Diante da monotonia que impera nas fórmulas dos novos estabelecimentos que proliferam no Rio de Janeiro – que, em geral, fazem número, mas não propõem nada de verdadeiramente novo –, o cardápio do Pipo soa como música pra meus ouvidos. Torço pra que, na prática, a casa se revele tão boa como me pareceu no papel.

Oro - Rua Frei Leandro, 20 - Jardim Botânico

http://www.ororestaurante.com/

Pipo – Rua Dias Ferreira 64 - Leblon

por: Fernando Martins em 10-05-2013
Feliz em ver seu texto com as fotos..tudo tão bem feito..como uma boa melodia.. como a comida do ORO que adoro.. parabéns!
por: Alhos, Passas & Maçãs em 11-05-2013
Constance,
como sempre, consonâncias.
Só fui duas vezes ao Oro e gostei, embora tenha as mesmas ressalvas que você. Mas faz tempo. Quero voltar na próxima vez que for ao Rio.
Seu texto, sempre consistente.
Beijos!
por: Constance em 12-05-2013
Obrigada, Alhos. Um elogio seu é uma medalha. Como já lhe disse, seu blog é dos poucos que ainda leio com prazer.
Beijos.
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