No apagar das luzes de dezembro, uma despretensiosa visita à Casa Cavé, histórica confeitaria no Centro do Rio de Janeiro, me rendeu um dos melhores momentos à mesa em 2015.
Pastéis de nata recém-assados (massa crocante, recheio gostoso) me levaram sem escalas ao querido Portugal. Através do olhar de minha mãe, que me acompanhava naquela manhã, eu iria ainda mais longe. Pra ela, havia mais que um país naqueles bocados.
Fazia décadas que não entrava na Cavé. Diante do balcão de doces, viajou mais de cinquenta anos no tempo, lembrando a época em que visitava a confeitaria com minha avó e minha bisavó. Aquela seria apenas a ponta de um carretel de recordações. Desandou a falar de sua infância, dos passeios ao Centro com a mãe, dos cabritos inteiros que o pai trazia pra assar em casa, das receitas preparadas carinhosamente pela avó – peixes empanados no fubá, carne assada com molho ferrugem, filhoses, doce de banana "vermelhinho".
Eis a riqueza de fazer da refeição um ato compartilhado. Cada pessoa traz consigo à mesa sua bagagem cultural, sua história, suas lembranças. Tivesse ido sozinha à Cavé, eu provavelmente teria saboreado os pastéis de nata com o mesmo prazer, mas a experiência teria sido outra. Irremediavelmente outra.
Casa Cavé – rua Sete de Setembro 133 (esquina com Uruguaiana) – Centro